A programação se estrutura a partir de quatro eixos conceituais que operam como disparadores para a curadoria, sendo eles: Contra-cinemas, Plantas e bichos veem coisas, Cinema de mutirão e Fazer ver: terra e território. Tem como proposta cultivar um espaço de fruição, formação, discussão e criação, fomentando o encontro entre diferentes perspectivas por meio da experiência coletiva do cinema e integrando saberes locais com a prática audiovisual.
“Trata-se, sobretudo, de uma mostra que pretende se firmar enquanto possibilidade de expansão e difusão de cinemas não-hegemônicos para além do circuito de exibição em que geralmente circulam, como mostras e festivais restritos às capitais. Ao aproximar filmes brasileiros recentes produzidos por cineastas negros, mulheres, indígenas e LGBTQIANP+ de contextos rurais e territórios comunitários no interior do Ceará, desejamos contribuir com a descentralização dos bens culturais e artísticos existentes em nosso país e com democratização da diversa produção cinematográfica para novos públicos e espaços de circulação“, explicitam Cecília Gallindo Cornélio e Yuri Firmeza, curadores da Mostra.
Todos os filmes exibidos durante a mostra estarão disponíveis com recursos de acessibilidade para acesso geral durante o dia 17 de novembro de 2024.
Na semana seguinte, de 22 a 24 de novembro, a mostra faz uma itinerância e circula pelos territórios e espaços culturais rurais dos municípios de Baturité, Pacoti e Aratuba. Junto aos filmes que compuseram os programas curatoriais em Guaramiranga, também serão exibidos os filmes e trabalhos audiovisuais produzidos nas oficinas.
Todos os filmes exibidos durante a mostra estarão disponíveis com recursos de acessibilidade para acesso geral durante o dia 17 de novembro de 2024.
Um contra-feitiço, QUEBRANTE percorre as ruínas da Rodovia Transamazônica BR-230 e sua fantasmagoria, retratando suas pedras e seus fantasmas. QUEBRANTE acompanha Dona Erismar, conhecida na região como “A Mulher das Cavernas”. Uma conversa entre as pedras e a lua, QUEBRANTE é livremente inspirado no projeto de Robert Smithson, THE TRULY UNDERGROUND CINEMA (1971) e no filme THE VERY EYE OF THE NIGHT (1958) de Maya Deren.
A comunidade camponesa “Caldeirão da Santa Cruz do Deserto” chegou a abrigar 5 mil pessoas em autossuficiência e soberania alimentar, na cidade do Crato, Brasil. Foi violentamente massacrada por forças militares do Estado brasileiro, em 1937. Esse evento segue muito pouco esclarecido na história nacional e sua memória é o cordão que entrelaça vozes de mulheres em perspectiva, vivendo na e com a terra, nesta região. Dona Ana, integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e Silvanete Lermen, benzedeira e agricultora cultivando 10 hectares de agrofloresta no semiárido tecem um filme sobre mulheres, fé, conflitos de terra, água, corpos, poesia, saberes, memórias e coletividades possíveis. Ouve a terra que nos chama?
Manuseando imagens da natureza coletadas em diferentes biomas do Ceará, um trio de musicistas experimentais amplifica, em imagens e sons, pequenos processos da natureza e as transformações de uma paisagem em outra.
Sessões realizadas em parceria com escolas da rede pública de ensino em Guaramiranga, incentivando a formação de plateia e a democratização dos meios audiovisuais como ferramenta de criação
Natalie, de uma jovem de 18 anos, vende doces nas praias da ilha Boipeba desde pequena. O curta acompanha o seu caminho na areia, vendendo seus bombons enquanto sonha e reflete sobre a vida.O curta foi realizado coletivamente pelos jovens das oficinas “Cinema e Sal” , projeto de Cinema Comunitário e Educação Popular no arquipélago de Cairu-Bahia.
Fragmentos do cotidiano de jovens da região do Maciço de Baturité.
Num mundo onde os super-heróis são treinados desde criança, acompanhamos a rotina escolar dos alunos da Escola de Heróis. Porém, durante um treino de poderes, uma aluna acidentalmente dá vida a um robô. O robô começa a trazer pânico para a escola e agora os jovens heróis precisam se unir e cooperar para salvar a todos.
Documentário realizado por crianças e jovens da vila quilombola de Monte Alegre. Os veteranos moradores da vila contam que no passado o Mar batia ali no alto do Monte.
Reino da Encantaria é um filme sobre retornar ao território. Kauê é uma criança que cresceu fora de sua aldeia, e agora retorna tendo que se reconectar a sua raiz Anacé a partir da relação com sua mãe, e sua avó, uma pajelança.
As crianças do quilombo Gurugi-Ipiranga (Conde/PB) te convidam para uma imersão audiovisual nos rios e nas memórias da comunidade sobre um modo de vida integrado com a natureza.
O filme-carta é endereçado a um hipotético e futuro destinatário e traz um olhar sobre a comunidade de Mato Grosso de cada participante da oficina sobre Filme-Carta proposta pelo projeto “Corpo.Natureza.Memória” e facilitada por Rúbia Mercia. Como exercício, o grupo experimentou a colagem de imagens já gravadas durante o projeto sobre uma montagem polifônica de áudios gravados pelos participantes.
Acompanhando o caminho dos riachos e dos córregos que atravessam a comunidade de Mato Grosso, chegamos na Casa do Seu Egídio, uma das mais antigas da localidade, onde fomos recebidos por Osmar, que nos contou a história de uma grande árvore.
No Guaiviry, terra tradicional Guarani e Kaiowá, dois jovens saem para caçar no resto de mata que ainda permanece.
Adriana enfrenta uma crise de identidade. Ao mesmo tempo, seu irmão Ygor, com seu jeito bagunceiro e traquina, tenta animá-la, mas acaba causando mais confusão. No meio disso, Mari, amiga de Adriana, tenta ajudar e fortalecer a amiga nesse momento difícil, juntas elas vão refletir sobre ansiedade, pressão familiar, sonhos e o que é crescer.
Documentário realizado por crianças e jovens da vila de Cairu sobre uma entidade misteriosa que vive nos Mangues do pequeno vilarejo no litoral da Bahia.
No quintal da Zilda a natureza se encontra com memória: DONA ZILDA compartilhou um pouco do conhecimento ancestral das propriedades medicinais das plantas do seu quintal.
O documentário celebra a retomada do plantio das variedades do milho tradicional do povo Guarani M’bya na aldeia Kalipety, onde antes havia uma área seca e degradada, consequência de décadas de monocultura de eucalipto. Considerado como um dos verdadeiros alimentos que os seres divinos possuem em suas moradas celestes, o milho passa por rituais e bênçãos desde o plantio até a colheita, quando a aldeia se junta para festejar. Comê-lo mantém a vitalidade dos seres humanos em equilíbrio, à semelhança das divindade.
Matinta Pereira é um filme de terror produzido por meninas Anacé sobre uma versão da encantada Matinta Pereira, que habita as matas, e tanto protege como assusta aqueles que a invadem sem saber.
Uma apresentação de trabalho se transforma em caos quando Michael e Ezequiel discutem na sala de aula. Os colegas tentam parar a discussão, mas todos são mandados para a diretoria. Na diretoria eles são encorajados a trabalhar juntos em um projeto sobre “Hora de Aventura” e aprender sobre as diferenças e saber pedir desculpas.
Buscando a expansão e difusão de cinemas não-hegemônicos, a curadoria traz filmes cearenses, nordestinos e brasileiros produzidos em processos comunitários, a partir da relação com a terra e o território, exibidos em espaços públicos de Guaramiranga.
Entre 1974 e 1976, Leon Hirszman realizou três documentários produzidos pelo MEC sobre os cantos entoados pelos trabalhadores rurais nordestinos. Na trilogia há a documentação dos cantes de trabalho da cana-de-açucar, de Feira de Santana, dos plantadores de Cacau, de Itabuna, e dos mutirões, em Chã Preta. “É uma espécie de partido-alto do campo, uma roda de samba no trabalho”, afirma o cineasta que confessadamente caminhava na trilha aberta por Humberto Mauro e Mário de Andrade no resgate dessa prática cultural em vias de extinção.
Fala da Terra [Voice of the Land] (2022) se desenvolve em torno do Coletivo Banzeiros, grupo teatral do Pará formado por membros do MST [Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra] ativos na área da educação e da militância política. Debruçando-se sobre as técnicas de democratização dos meios de produção cênicos do Teatro do Oprimido, de Augusto Boal, a obra ocupa um território entre o documentário e a ficção e busca entender os processos de construção da cultura e da identidade coletiva ‘Sem Terra’ através de suas expressões artísticas.
Adolescentes da vila pesqueira Garapuá investigam a chegada de empreendimentos turísticos em sua comunidade, refletindo sobre a preservação do território e identidade.
Encantaría é o lugar onde seres sagrados se manifestam através de forças da natureza. E através de Pajé Barbosa, da etnia Pitaguary, esse lugar se revela em sua dimensão; seja em uma roda de conversa, caminhando na Serra da Monguba ou em um ritual.
Um grupo de amigos decide se aventurar em um antigo mosteiro abandonado no pequeno vilarejo Jesuítas, no Maciço de Baturité (CE).
Média realizado coletivamente pelo povo Anacé da Taba em 2019, primeira reserva indígena do Ceará, no qual contam seus caminhos e desafios um ano após serem realocados para a Taba dos Anacé, suas saudades, medos e esperanças. O filme foi realizado pensando não no que foi deixado para trás nas aldeias de Matões e Bolso, mas no que pode ser construído e semeado na Reserva Indígena.
Direção: Jamilson Guajajara, Pollyana Guajajara, Jacilda Guajajara e Lemilda Guajajara
Falar do meu lugar é também falar de mim, falar de onde eu cresci, falar do que é simples. Uma carta para Alana é para deixar vocês com o gostinho de quero mais e vir nos conhecer. Conhecer nossas histórias, nossos costumes e saberes do Povo Kanindé (Aratuba – CE).
Idealizado com o intuito de fomentar e visibilizar a cultura das batalhas de rima do Cariri cearense, o documentário exibe vivências, depoimentos e muitas rimas que constroem a cena de rap da região. Os entrevistados relatam como a realidade das batalhas mudaram e ressignificaram suas vidas, e que mesmo alguns já terem disputado em nível nacional, é apontado por meio de falas e rimas como as batalhas seguem sem apoio e incentivo enquanto movimento social, cultural e político.
Mestre Vicente e seus companheiros de quase meio século de brincadeira, os caretas. Valcir Chagas e Toinho, partilham memórias de um tempo em que os reisados eram as maiores atrações culturais da vida comunitária de Guaramiranga.